Once





















Apenas Uma Vez, do cineasta irlandês John Carney, é um filme terno e poético, sobre duas criaturas que ao acaso se encontram, nas ruas de Dublin, movidas por uma grande paixão pela música, a qual as faz superar as condições adversas em que vivem de forma a levá-las a ter uma experiência inesquecível.

O filme pode causar estranhamento, num primeiro momento, pelo desleixo formal. Sentimos um choque com a câmera sempre na mão, tremendo ao tentar enquadrar os atores. Porém, assim que nos acostumamos com esse desleixo, reparamos que tem tudo a ver com a proposta do filme.

É a história de um homem desiludido com o amor que canta e toca violão nas ruas para ganhar uns trocados. Um dia ele conhece uma imigrante tcheca que gosta de suas composições e desenvolve com ela uma relação de amizade e companheirismo. O interessante é observar como essa relação despretensiosa vai crescendo junto da colaboração musical entre eles. O entusiasmo com a música que eles estão criando se mistura com um afeto genuíno e recíproco. São dois corações dilacerados, com receio de se entregar a um novo amor. Algumas seqüências parecem verdadeiros videoclipes, pois a música é que comanda as ações dos personagens. O melhor exemplo talvez seja a volta dela para casa, depois da incumbência de colocar letra em uma das melodias compostas por ele. Ela sai de casa para comprar pilhas, pois escreve a letra enquanto ouve a música em um cd player portátil. Ela está parada no balcão da loja, depois sai e volta para casa, enquanto acompanhamos todo o seu trajeto e ouvimos o resultado da composição da dupla na íntegra.

Essa cena é a que melhor exemplifica o poder do filme de colocar-nos lado a lado com as experiências que eles passam na tela, com a câmera sempre os acompanhando de perto (o que justifica certo desleixo), e também a habilidade do diretor em fazer com que torçamos para que a relação deles ultrapasse a barreira que impede a aventura que ambos querem experimentar, mas não têm coragem. Apenas uma Vez é a história de um amor muito forte e bonito que nunca chegou a se consumar.

Ricardo de Souza

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